terça-feira, 22 de maio de 2007

Certificação e validação de competências

Claro que me agradaria viver num mundo onde a literacia e o conhecimento fossem os pilares que sustentam a sociedade. Tudo isto seria maravilhoso se fosse real. No entanto, o que acontece nos tempos que correm é mais um “tapar o sol com a peneira” do que uma aposta valorativa na educação qualitativa, capaz de formar cidadãos para enfrentar as necessidades do mercado de trabalho.

Senão vejamos: cada vez mais se recorre ao método de certificação e validação de competências como meio de obter o 9.º ano de escolaridade e, mais recentemente, o 12º. A maioria dos formandos vê neste sistema uma forma fácil e rápida de obter a escolaridade para efeitos de currículo, com vista a evoluir profissionalmente. Nada contra. Acho muito bem que cada um tente, de acordo com os meios disponíveis, melhorar a sua condição. O que me preocupa são as reais competências que adquirem esses formandos para merecerem o desejado diploma em comparação com os conhecimentos que são exigidos àqueles que tem um percurso escolar normal. Não digo que não se esforcem, pois estou a falar com conhecimento de causa e sei o trabalho e empenho que alguns desses formandos despendem na busca do diploma que possivelmente lhes vai permitir melhorar a situação profissional. Também sei que ao longo da vida adquirimos competências que nenhuma escola é capaz de nos dar. E sei ainda que alguns desses formandos tem capacidades para obter o diploma e só o estão a adquirir desta forma porque, pelos mais diversos motivos e condicionalismos da vida, não o fizeram através do percurso normal.

Não estou a defender que só deve ter estes níveis de escolaridade quem seguiu um percurso escolar desde o 1.º ano de escolaridade até ao 9.º ou 12.º sem interrupções e que, quem não o fez, não deve ter outra oportunidade. Eu própria não o fiz assim. Estudei até aos 12 anos, completei o 6.º ano de escolaridade, que era o obrigatório nessa altura, e por falta de condições financeiras dos meus pais, vi-me obrigada a desistir do sonho de ser professora. Contudo, procurei outras oportunidades e aos 18 anos voltei a estudar, no ensino recorrente, conseguindo ao fim de 10 anos de estudo (do 7.º ao 12.º mais 4 na universidade) a profissão que tanto desejei e pela qual tão arduamente lutei.

As questões que me levam a esta reflexão são duas: em que se baseiam os objectivos e métodos das entidades capacitadas para a certificação de competências e o exemplo que está a emergir deste método.

Como já referi, é com conhecimento de causa que teço estas reflexões. Conheço o método de pelo menos três entidades que conferem o 9.º ou 12.º ano de escolaridade, através da certificação e validação de competências, e posso referir que a exigência varia imenso de uma para outra. Enquanto numa é exigido apenas um relato escrito superficial sobre a sua vida no processo de crvcc, outra exige o mesmo trabalho mas muito mais detalhado e comprovado ao mínimo detalhe. No final, os formandos obtêm a mesma certificação, apesar da diferença de trabalho e competências que lhes foram exigidas. Questiono ainda o acompanhamento que é dado aos formandos no sentido de realizarem aprendizagens efectivas e úteis para a sua formação.

Perante o cenário de aparente facilitismo com que este método dá equivalência aos referidos graus de escolaridade, que mensagem estaremos a passar aos adolescentes que frequentam a escola? Ora, possivelmente pensam que não vale a pena esforçar-se muito, que se não conseguirem passar de ano e completar a escolaridade obrigatória, quando atingirem os 18 anos terão a oportunidade de, em pouco tempo e fazendo poucas disciplinas, ter o seu diploma.

Acredito no empenho de todos os que neste momento estão a trabalhar no sentido de ver as suas competências validadas mas questiono, até que ponto este método vai resolver os problemas de educação e iliteracia do nosso país…

1 comentário:

carlos disse...

Concordo plenamente com o que disse, e também acho que não é justo, para aqueles que quando frequentaram a escola se aplicaram e se esforçaram para conseguir esse objectivo que era o 12ºano, muitos individuos que passaram o tempo de escola a "curtir" a vida, a fazer troça de quem realmente estudava e se esforçava, vão agora conseguir em "meia duzia" de meses aquilo que tanto nos custou a alcançar, tudo em prol das estatisticas deste governo, pois não interessa qual a "qualidade" dos individuos com secundário completo mas sim quantos têm o secundário completo.